Diante da imagem | Coletiva de fotógrafos | Galeria Casa | Casapark

Dez fotógrafos que se relacionam com Brasília apresentam recortes de suas produções em uma mostra que apresenta diferentes formas e trabalhar com a fotografia como linguagem e técnica, ao mesmo tempo que exploram os limites entre corpo e território

No próximo dia 4 de junho, sábado, a partir das 17h, a Galeria Casa abre a mostra fotográfica “Diante da imagem”, com obras de dez artistas visuais que trabalham com a fotografia como linguagem e como técnica. Participam da mostra Ana Póvoas, Ana Valéria Pontes, Letícia Lima, Luciana Cândida, Lucimeire Ribeiro, Luis Xavier, María Mara, Marisol Kadiegi, Melissa Warwick e Webert da Cruz.  Com curadoria de Carlos Silva, a mostra fica em cartaz até o dia 26 de junho, com visitação de terça a sábado, das 14h às 22h, e domingo e feriados, das 12h às 20h. A Galeria Casa fica no Casapark, Piso Superior, dentro da Livraria da Travessa. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos. No Instagram @galeria_casa.

Resultado da pesquisa de Carlos Silva sobre a produção em arte contemporânea na cidade, a proposta curatorial surgiu da vontade de realizar uma exposição que rastreia a ideia de corpo e de território, como importantes campos de investigação da produção contemporânea. O corpo e o lugar ocupado como instâncias de representação e apresentação. Carlos Silva comenta que a exposição “Diante da imagem” compõe a sexta edição de exposições do ciclo anual da Galeria Casa e traz um conjunto de fotografias contemporâneas de um coletivo de 10 artistas.  “As imagens nos apresentam fragmentos do mundo, focados no corpo e no espaço vivido. A conexão entre as imagens se estabelece a partir desses dois elementos, o corpo e o território desse corpo. Tanto o corpo como o território, nesses casos, são marcas da passagem do tempo e da manifestação da luz”.

O corpo como elemento central e o espaço como lugar das vivências afetivas. O eixo para a definição da exposição foi a fotografia. Deu-se ênfase, porém não exclusividade, à fotografia produzida por artistas relacionados direta ou indiretamente ao Planalto Central e a Brasília. O foco regional é uma das premissas da Galeria Casa, na medida em que promove uma ativação na cadeia produtiva local das artes visuais. O curador explica que dos 10 artistas, foram escolhidos pequenos recortes em conjuntos de fotografias.

Sobre os artistas e suas produções

Ana Póvoas (1970) é fotógrafa, artista visual, produtora cultural e jornalista. Tem graduação em Comunicação Social e pós-graduação em Fotografia. Atualmentepesquisa na área de antropologia visual, fotografia documental e arte contemporânea. Investe tempo e trabalho no fomento à fotografia e educação visual. Em 2016, é proponente e artista do projeto A Casa do Ser – Livro de fotografia, aprovado pelo FAC – Fundo de Arte e Cultura de Goiás. Seu livro foi publicado em 2017 e teve lançamento com exposição em diversos lugares como Pirenópolis -Go, Goiânia – Go, Brasília – DF, Fortaleza -CE e Rio de Janeiro – RJ.

Em “Todos os caminhos são o meu caminho”, um trabalho em processo, a fotógrafaapresenta a construção de narrativas a partir de um novo/outro olhar sobre um conjunto de imagens destacadas na imersão em um acervo de fotografias: as de família e as de cotidiano (autorais).  Em busca de uma reflexão a respeito de acervo, álbum de fotografia de família, memória, narrativas visuais do cotidiano, história da arte e esquecimento, ela propõe a liberdade interpretativa para esse trabalho, através da imaginação e da intuição. Inspirada pela releitura do trabalho de Aby Warburg feita por Georges Didi-Huberman no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia na Espanha (2010), Atlas, Ana Póvoas faz uma imersão no acervo de fotografias de família (herdadas) com a intenção de interrogar tais imagens em seu tempo plural; buscar ver, imaginar, pensar e, sobretudo, desvelar novos significados e combinações.

Ana Valéria Pontes vive e trabalha no Distrito Federal, é estudiosa e amante da fotografia, especialista em Fotografia pela Faculdade Unyleya, interessa-se pela imagem enquanto registro e objeto de ficção. Seu trabalho procura, a partir de paisagens já visitadas, produzir novas paisagens imaginárias abrindo a possibilidade da criação de um lugar único.

Em “Minha paisagem 1 e 2”, a fotógrafa comenta que “diante da paisagem me perco. Observo e registro. Guardo a ilusão de nunca a esquecer.  Assim faço com tantos outros lugares. Não os quero perdidos. No momento em que os aprisiono na câmera, tenho a sensação de que jamais serão modificados. Esta fotografia é a invenção de uma paisagem imaginada, que só existe na memória de quem vê.”

Letícia Lima é fotógrafa e teve contato com a fotografia pela primeira vez em 2009 através do Espaço f508, estudou práticas de produto e publicidade pela Casa da Luz Vermelha e Fotografia de espetáculos pelo Espaço f508. Formou-se em fotografia pela faculdade IESB e realizou trabalhos com iluminação, fotografia de produtos, ensaios, fotografia corporativa e como docente de mobgrafia para alunos do Encceja em uma escola pública de Goiás. Realizou a palestra “Mobgrafia – a arte de fotografar com o celular” na universidade UDF de Brasília. Cursou docência de artes e linguagens visuais, fotografia de moda, iluminação, fotografia de produtos, e atuou como monitora do curso “Treinamento visual” no instituto Motivarte em Buenos Aires – AR. Especialista em docência do ensino superior pela faculdade SENAC também é especialista em fotografia como suporte para imaginação pelo Espaço f508.

Erro de refração ocorre quando existe um desvio no percurso da luz dentro do globo ocular fazendo com que a imagem chegue de forma não nítida na retina. Sendo portadora de duas CIDs (Classificação Internacional de Doenças), que inspiram o nome da obra e submersa no universo da imagem, Letícia Lima cria o ensaio após fotografar sem corretores óticos.

Luciana Cândida é goiana e atualmente mora em Brasília, artista visual, historiadora e arte-educadora. Formada em História pela Universidade Federal de Goiás e em Fotografia pelo Instituto de Educação Superior de Brasília, especialista em arte intermidiática digital e em fotografia como suporte para imaginação. Realiza pesquisas, exposições, oficinas e projetos educativos. Atualmente pesquisa sobre gênero e imagens técnicas, se utiliza de colagem e arte têxtil para desenvolver novas narrativas estéticas. Participa de exposições desde 2014.

Na mostra “Diante da imagem”, a Luciana apresenta a  série “Simetria” composta por quatro imagens 30x30cm, onde a artista aborda a estrutura do patriarcado através fotografias masculinas de diferentes épocas com intervenções têxteis  A sua intervenção é uma maneira de desconstruir ainda que superficial essa estrutura machista, onde as imagens masculinas se alteram, mas permanecem a mesma base simétrica e inalterada, todas as fotos são do acervo pessoal da artista que coleciona fotografia de diferentes épocas para suas pesquisas artísticas.

Em sua fotografia, Lucimeire Ribeiro busca explorar processos experimentais e alternativos, produzidos tanto com aparelhos e técnicas digitais de criação de imagem como com câmeras de plástico e analógicas na confecção de sobreposições, múltiplas e longas exposições. Oficial de chancelaria, da carreira do Serviço Exterior Brasileiro, teve a oportunidade de fotografar em países como Canadá, Armênia, Holanda, Tanzânia, entre outros. Em 2019, no Quênia, participou da Exposição Fotográfica “Kenya Through the Diplomat’s Lens”, no Museu Nacional de Nairóbi. Atualmente mora na Sérvia e está em fase de conclusão de sua pós-graduação em Fotografia como Suporte para a Imaginação.

Em “Portais do Tempo e do Vento”, os dípticos de Lucimeire Ribeiro apresentam fotografias autorais feitas na Namíbia e apropriações de imagens de satélite da NASA, do Deserto Namibe e Kalahari, também na Namíbia. As composições exploram texturas e conceitos, cores e formas, expressões humanas e naturais, ações e inações do tempo. Tratam da resistência e da transitoriedade das coisas. Tratam do pseudo-minimalismo do deserto e de seus desafios. Tratam da onipresença humana e sua resiliência. A exploração imagética se dá em função das inúmeras camadas narrativas que a vida nos apresenta sob a ótica do pó, da areia, do tempo e do vento.

Nascido e criado em Brasília, Luis Xavier é jornalista e publicitário por formação acadêmica. Atua como fotógrafo no campo do fotojornalismo e é pesquisador da área, com interesse em ética e estética. Foi um dos criadores da série de curtas-metragens É Nois (2005), tida como uma das primeiras do tipo no YouTube.

As três fotografias sem título que Luis Xavier apresenta na mostra “Diante da imagem” se enquadram no gênero fotorreportagem, captadas por meio de equipamento digital in loco. Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) montaram barricadas e atearam fogo a pneus, na BR-040 sentido Brasília-Valparaíso, para cobrar rapidez na reforma agrária. O Batalhão de Choque da Polícia Militar chegou ao local por volta das 14h para garantir a saída dos manifestantes, no entanto, não houve confronto. A pista no sentido contrário, Valparaíso-Brasília, foi liberada pouco antes, após negociação da polícia com os manifestantes. Segundo Luis Xavier, esta fotorreportagem oferece uma curta e direta imersão em um recorte de um movimento que organiza e mobiliza trabalhadores e trabalhadoras rurais e urbanos, cujas histórias de luta são mais do que explicativas por meio de retratos e capturas feitas durante manifestações.

María Mara nasceu em Buenos Aires, na Argentina. Estudou fotografia na Escuela de Fotografia Creativa, em sua cidade natal, e frequentou diversas oficinas de arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage durante os anos que viveu no Rio de Janeiro. É pós-graduada em fotografia e atualmente integra o ciclo de estudos para artistas visuais Proyecto Imaginario Latinoamérica. Das exposições que participou, destaca-se a individual na Galeria Savta (Brasília, 2021) e as coletivas: “Todo barulho que transborda do meu silêncio”, com curadoria de Do feminino na Arte, no Memorial Getúlio Vargas (RJ, 2020) e “Ainda Fazemos as coisas em grupo”, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (RJ, 2019). Por meio da linguagem fotográfica, a artista sugere correspondências entre o corpo e os espaços físicos e alegóricos que esse corpo habita.

Em “O avesso das pedras”, “exploro um território que se revela como um outro e um mesmo corpo, uma outra e uma mesma pele. Me lanço ao encontro do elemento vital que as raízes alcançam após recorrer sinuosos e longos caminhos. Eis um corpo que procura um vínculo com a terra. E, não obstante, o que existe do outro lado das pedras parece ser uma distância intransponível, uma sorte de abismo que a arte procura atravessar.”, comenta a fotógrafa.

Marisol Kadiegi, artista audiovisual, filha de Kapemba Kibonga Dala e Pedro Kadiegi, é mãe de Odara e Akil, pós-graduada em Fotografia como Suporte para a Imaginação pelo Espaço Cultural f/508, em História Cultural, Identidade, Tradições e Fronteiras pela Faculdade de História da Universidade de Brasília (UnB). Graduada em Comunicação Social, Jornalista. Refugiada de Guerra Pela libertação de Angola de 1976 a 1986 em Portugal. Vencedora no Brasil, dos prêmios “Mulheres Negras contam sua História”, em 2021, na categoria redação atribuído pela Secretaria de Políticas para as Mulheres — Presidência da República, Brasília 60 anos em 2020 e prêmio   Mulher Negra 2021, ambos reconhecimentos pela contribuição pela atuação cultural e audiovisual, atribuídos pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal.  É documentarista, produtora de conteúdo televisivo e cinematográfico, e pesquisadora em história e cultura da África (AFRAKA) e sua Diáspora.

“Memórias que em mim moram”, foto 10cm x 15cm, adquirida em 2007 do acervo da família, emoldurada em passe-partout 47cm x 37cm e texto QRCODE 9cm x 12cm adesivado em placa de vidro, carrega minha história, memórias, afetos e desafetos, mas acima de tudo, o alicerce para a construção do caminho de minha jornada, onde o tempo a distância e o silêncio, foram aliados na manutenção da minha linhagem e tradição. 

Graduada em Turismo e pós-graduada em Fotografia pelo Espaço F/508 de Cultura (Brasília/DF e Lisboa/PT), Melissa Warwick trabalha como fotógrafa desde 2009, sobretudo em projetos com foco em economia criativa, turismo e cultura local no interior nordestino. Seu trabalho já circulou em mostras por diversos estados brasileiros, além de países como Espanha, Áustria e Irã. Em 2018, foi citada na matéria “Uma seleção de fotografias feitas por brasileiras” no jornal El País Brasil e na matéria “A estética das casas nordestinas conta muitas histórias” da VICE Brasil, sobre o seu projeto ”É Tudo Fachada”. Em 2021, a fotógrafa foi contemplada pela Lei Aldir Blanc, premiada no BC Foto Festival (SC) e selecionada para integrar a rede Mulheres Luz, projeto que tem como objetivo dar visibilidade, difundir e democratizar o acesso a conteúdos produzidos por mulheres da imagem no Brasil. Melissa também é membro da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil e colaboradora do @everydaybrasil, projeto que visa documentar o cotidiano do país por meio da fotografia. Em março de 2022, foi condecorada com a Medalha do Mérito Cultural em reconhecimento pelos seus préstimos à cidade de Aracaju e mais recentemente, premiada no I Concurso Público Nacional de Fotografias do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil.

Para a mostra, Melissa Warwick apresenta o registro da performance Sagrado Profano, obra idealizada e interpretada pela artista e pesquisadora Paula Dakinn, em que faz uma reflexão íntima sobre o corpo feminino, desenvolvida pelos ecos de crenças populares recorrentes dos mitos do sagrado feminino e singularmente, presentes ao longo do tempo dentro das diferentes culturas em nossa história. Através do corpo performance, foi produzida uma caminhada sensorial, interna e estética sobre o transbordamento do sangue menstrual, representado pelo silenciamento e a abominação, dessacralização do derramamento do sangue feminino.

Nascido em Ceilândia (DF) e morador do Sol Nascente (DF), Webert da Cruz é artista visual, fotógrafo, videomaker, performer ballroom, educomunicador, designer e produtor cultural. Jornalista formado pela Universidade Católica de Brasília, também é pós-graduado em Fotografia como Suporte Para Imaginação pelo Espaço Cultural F/508 de Cultura. Trabalhou como educador em projetos de arte, cultura e educação no sistema socioeducativo, centros sociais e em escolas públicas do DF. Integra também a Casa de Onijá, coletivo artístico LGBTQIAP+ e família ballroom. Atua no Mercado Sul em Taguatinga (DF) e por lá movimenta o Coletivo Retratação de Comunicação. Juventudes; comunidade negra e periférica; cultura LGBTQIA+; povos tradicionais e cultura popular são os principais temas do seu trabalho.

A série de fotografias digitais “Reconectar fragmentos” faz parte de um processo pessoal de movimento e ancestralidade. Um tocar nas emoções de um fluir de reencontros íntimos, olhares profundos sobre marcas de uma pele vivência que peleja em se transformar e cuidar de algo genuíno. Um mergulhar em águas onde não se enxerga o fundo. Coragem, firmeza e sobretudo, magia do reconectar-se.

Sobre o curador

Carlos Silva nasceu em 1963 em Barretos (SP). Vive e trabalha em Brasília desde 1982. Atua como artista visual, historiador, mestre em arte, especialista em psicologia e educação, professor, curador independente, crítico, coordenador de cursos livres e programas educativos em artes visuais, diretor de galeria, consultor, diretor de criação. Foi membro do Conselho de Cultura do DF e professor do Departamento de Artes da UnB. Como curador e assistente, assinou “suspensões”, “a seco”, “fora do lugar” e “100 anos de Athos Bulcão”. Participa de exposições individuais e coletivas. Atua na interface entre arte, história, literatura, psicanálise e filosofia. Publica textos técnicos e poéticos com frequência.

Serviço:

Diante da imagem

Coletiva de fotógrafos

Artistas | Ana Póvoas, Ana Valéria Pontes, Letícia Lima, Luciana Cândida, Lucimeire Ribeiro, Luis Xavier, María Mara, Marisol Kadiegi, Melissa Warwick e Webert da Cruz

Curadoria | Carlos Silva

Abertura | 4 de junho de 2022

                    A partir das 17h

Onde | Galeria Casa

              Casapark, Piso Superior, dentro da Livraria da Travessa

Visitação | até 26 de junho

                    De terça a sábado, das 14h às 22h

                    Domingo e feriados, das 12h às 20h

Entrada | Gratuita

Classificação Indicativa | Livre para todos os públicos

Instagram | @galeria_casa

Endereço | SGCV Lote 22, Brasília – DF

Contatos | +55 (61) 3403-5300

                    @casapark